Irm.'. Adriano Camargo Monteiro
ARLS Madras 3359
No passado, e relativamente no presente, a busca deliberada
pelo conhecimento, a construção da cultura pessoal e o desenvolvimento
intelectual têm sido indesejáveis por certos sistemas político-religiosos. No
passado, muitos filósofos, livres pensadores, artistas e cientistas sofreram
perseguições, foram presos e executados por causa de suas ideias e opiniões, de
sua criatividade e de suas invenções e descobertas, e muitas de suas obras
foram banidas da sociedade e consideradas proibidas e queimadas em praças
públicas.
A busca pelo conhecimento e
pela aquisição de cultura sempre foi considerada uma coisa indesejável,
“perigosa” e desprezada pelos dogmas seculares cujo objetivo sempre foi buscar
estabelecer o obscurantismo.
Contudo, o exercício do livre
pensar, a criação visionária, em a busca pelo autoconhecimento e pelo
autoaperfeiçoamento fazem parte da vida de todo aquele que é livre
psicomentalmente e de vontade forte. A busca pelo conhecimento e pelo
aprimoramento cultural, pela liberdade de expressão e pela aplicação prática de
uma filosofia pessoal são essenciais à evolução e à saúde psicomental e física
de qualquer indivíduo esclarecido, inteligente e de sensibilidade. Aqui,
“esclarecido” ou “inteligente” não significa estar simplesmente a par da
programação sensacionalista e lobotomizante das TVs, dos modismos televisivos
internacionais e nacionais e de sua ditadura popular que escraviza as multidões
biomecanoides inconscientes e inconsequentes. Tampouco é pensar que se sabe
tudo lendo por alto um ou dois livros sobre qualquer assunto, “opinando” sem
embasamento ou sem argumento plausível. Aqueles que assim pensam convictamente
talvez nunca tenham entrado numa livraria ou numa biblioteca…
É importante ter em mente que
o conhecimento adquirido deve ser de fato internalizado e profundamente
compreendido para que um indivíduo se torne sábio em qualquer área do
conhecimento, seja convencional ou não convencional, pois a sabedoria é apenas
conhecimento com compreensão. Nisso reside o néctar ou o veneno de todo e
qualquer conhecimento adquirido, proporcionando clareza mental, discernimento
intelectual e autoconsciência, ou, como veneno, dispersão e confusão do
conhecimento não compreendido, acarretando a desagregação psicomental que
distorce a realidade, o entendimento e que pode provocar algum grau de mania,
desajuste, insanidade ou delírio. Porém, é preferível arcar com os resultados
do conhecimento do que com as consequências da ignorância.
Sendo assim, deveria ser
relativamente abrangente, sólida e crescente, dentro do possível, a cultura
pessoal de cada indivíduo que se crê autoconsciente. Mas não é exatamente o que
acontece. Há ainda muitas pessoas com matéria mental relativamente rudimentar,
mesmo nos dias de hoje, mesmo com tecnologia e informação acessíveis.
Infelizmente, não descobriram os prazeres sutis que expandem a consciência e o
conhecimento e que proporcionam momentos de salutares atividades do pensamento
e da imaginação, nos fazendo vislumbrar miríades de ideias.
Assim, a construção da cultura
pessoal é empreendida pela vontade e pelo prazer, gerando ideias, construindo
ideais, vivenciando sentimentos e sensações de uma vida rica psicomentalmente e
epicurista filosoficamente. De fato, a maioria dos eruditos, dos cultos, dos
literatos, dos artistas e dos filósofos livres-pensadores são, de certa
maneira, autênticos epicuristas, pois, de uma maneira ou de outra, consideram
importante e essencial a busca pela beleza filosofal, pela beleza que há na
sabedoria e no conhecimento, pelo prazer intelectual, pelo prazer do estudo e
pelo prazer da cultura elevada, que trazem experiências para consciência
individual. E tudo isso acontece com seletividade e apreciação consciente por
meio de uma forte atração interior por aquilo que é inegavelmente superior (em
vários aspectos), verdadeiramente criativo e artisticamente primoroso.
Assim, a cultura pessoal
estará sempre alicerçada, com um trabalho contínuo, sobre os pilares gregos da
vontade (thelema), do conhecimento (gnosis) e da sabedoria (sophia)…