As antimaçonarias são movimentos formados por
fundamentalistas religiosos, políticos radicais e ex-maçons voltados para a
crítica à Maçonaria. Sendo a Ordem Maçônica estruturada numa filosofia
libertária, não condenamos a priori essas críticas. Entendemos que todo homem e
toda associação (desde que se mantenham nos limites da lei) têm o direito ao
livre pensamento. Todavia, analisando os fatos que deram origem à crítica
sistemática, o estudioso acaba encontrando aspectos curiosos e relevantes dessa
intolerância. Daí, prefiro colocar o termo antimaçonaria em itálico – e
possíveis aspas! – uma vez que não existe bom-senso nem contraditório no
radicalismo e na intolerância.
O primeiro ensaio para a
criação de uma antimaçonaria foi perpetrado pelo escritor e jornalista francês
Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand Pagès, mais conhecido pelo nickname Léo
Taxil. Esse Taxil tornou-se conhecido na Europa entre 1870 e início do século
XX por ter enganado as hierarquias eclesiásticas com falsas publicações (ditas
“confissões”) sobre os maçons. A principal dessas “confissões” consistia no
relato das desventuras de uma suposta Diana Vaughan perante uma imaginária
“seita maçônica”.
O livro de Taxil
causou grande repercussão entre o clero católico e, apesar das sábias
considerações e advertências do bispo de Charleston, denunciando as falcatruas
e invencionices de Taxil, o Papa Leão XIII recebeu o falsário em audiência e
acabou acreditando nele… Só mais tarde descobriu-se que Marie Joseph Gabriel
Antoine Jogand Pagès – aliás Léo Taxil, aliás Paul de Régis, aliás Adolphe
Ricoux, aliás Samuel Paul, aliás Rosen, aliás Dr. Bataille… – era o esperto e
oportunista, diretor do jornaleco “La Marotte” proibido na França por violar a
moral e, por causa disso, Léo Taxil fora sentenciado a oito anos de prisão. Era
o mesmo Adolphe Ricoux que publicava livros anti-católicos pintando a
hierarquia eclesiástica como hedonista e sádica.
Esse homenzinho de nome grande e de vários nomes confessara
muito mais em 1885: com carinha de anjo, dizia-se convertido ao catolicismo
para ser solenemente recebido no seio da Igreja. Era o mesmo nanico moral
Gabriel Antoine Jogand que, neste mesmo ano, ludibriara uma Loja Maçônica a
aceitá-lo como Aprendiz – grau do qual ele nunca progrediu – e onde tentou
utilizar a boa-fé dos irmãos Maçons para conseguir dinheiro e promover uma
imprensa anticlerical. Um homem de mil caras esse Taxil. No ano seguinte Taxil
achou por bem tornar-se o autor oficial da antimaçonaria promovendo a venda
indiscriminada de novos livros e jornais sobre o assunto. Tomava dinheiro de
uns para escrever e publicar contra outros. Taxil foi o mestre da cizânia.
Aproveitou as alucinações de Eliphas Lévi (aliás abade Alphonse Louis Constant)
e endereçou novas “acusações” contra a Ordem que inadvertidamente o iniciara.
Despejou entre os franceses o café requentado da época dos Templários: os
maçons seriam satanistas e adoradores de um ídolo com cabeça de bode chamado
Baphomet.
Essa reinvenção do absurdo ficou conhecida como “Jogo de
Taxil” ressuscitando a malfadada figura do bode como ícone (maldito) da
Maçonaria. Entre 1886 e 1887, doente e com medo da morte, constantemente
assombrado pelo diabo que ele mesmo criara – trêmulo diante da perspectiva do
Juízo Onipotente – Taxil acabou por confessar suas fraudes. O nanico estava
cansado de ludibriar as pessoas. Mas era tarde demais, o mal estava feito: a
calúnia é semelhante à história daquele homem que subiu no alto de uma torre e
espalhou um saco de penas sobre a cidade – impossível recolher todas…
impossível recompor…
No século XX as bases das
antimaçonarias assentaram-se em três elementos: as fantasias de Léo Taxil, o
fanatismo religioso e os movimentos políticos totalitaristas: o salazarismo, o
fascismo, o nazismo e o stalinismo. Quanto ao comunismo, o Quarto Congresso da
III Internacional (novembro de 1922) estabeleceu “a incompatibilidade entre a
Maçonaria e o Socialismo” tido como evidente na maioria dos partidos da
anterior II Internacional.
A Maçonaria foi considerada como “organização do radicalismo
burguês destinada a semear ilusões e a prestar seu apoio ao capital organizado
em forma de Estado”. Em 1914 o Partido Socialista Italiano expulsou os maçons
de suas fileiras e o Quarto Congresso recomendou ao Comitê Central do Partido
Comunista francês a tarefa de liquidar, antes de 1º de janeiro de 1923, todos
os vínculos do partido com alguns de seus membros e de seus grupos com a
Maçonaria. Todo aquele que antes de 1º de janeiro de 1923 não declarasse
abertamente e a público, através da imprensa do partido, sua ruptura total com
a Maçonaria ficaria automaticamente excluído do Partido e sem direito a
reafiliar-se no futuro.
Felizmente esse tipo de oposição foi revisto na segunda
metade do século XX: a Maçonaria tem hoje mais de 300 Lojas em Cuba (Gran Logia
de Cuba fundada antes da revolução – em 1859 – e mantida por Fidel Castro).
Além disso, desde 1995 a Grande Loja da Rússia prossegue em seus trabalhos com
Lojas sediadas em Moscou, St. Petersburg, Voronezh, Vladivostok, Yaroslavl,
Kaliningrad, Novosibirski, Beliy Ritzar, Voronezh, Stavropal, etc… (fonte: List
Of Lodges, Pantagraphprinting).
Em 1945 o nazismo impedira o
funcionamento das Lojas Maçônicas na Alemanha. Nos países ocupados as Lojas
foram queimadas e todos seus arquivos confiscados e queimados. O prejuízo para
a história da Ordem foi incalculável. Os líderes da Maçonaria alemã foram
sumariamente assassinados sob o pretexto de que a maçonaria mantinha ligações
“ilícitas” com o judaísmo internacional. Outros foram mandados para campos de
concentração, juntamente com suas famílias. Nossos irmãos eram obrigados a
ostentar nas vestes a estrela de seis pontas que é, ao mesmo tempo, judaica e
maçônica (Estrela de Davi).
Quanto ao fanatismo religioso, torna-se mais difícil
analisá-lo nos dias de hoje. Muitos de seus “baluartes” estão na internet
ocultos em matérias e sites anônimos. Do outro lado, a falta de estudo e
pesquisa em vários segmentos da Ordem Maçônica propicia a esses adversários a
formação de redes descontínuas e propositadamente confusas onde se misturam
fatos e preconceitos. Apesar de assentarmos os trabalhos das Lojas sobre
cânones da literatura sagrada (em nossa caso a Bíblia), o fanatismo religioso
usa esses mesmos textos para condenar e desacreditar as instituições
iniciáticas e o trabalho que realizamos em benefício da sociedade. Apegam-se
num ou noutro deslize, numa ou noutra falha humana para condenar uma ideologia
inteira que vem sobrevivendo dignamente durante séculos, com enormes
sacrifícios e mesmo com a vida de seus membros. Isto sem falar no auxílio que
dispensamos às demais instituições (religiosas e iniciáticas) e na defesa que
lhes prestamos sempre que sintam ameaçadas.
-A Maçonaria é uma organização
de homens sujeitos aos mesmos erros e imperfeições que acometem nossos
detratores. Com uma diferença: não pretendermos ser infalíveis nem ocultamos
nossos atos sob a capa da religiosidade.
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