sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Como vencer na Maçonaria sem fazer força

Ir.·. José Castellani
Consultório Maçônico II

Depois de muitos anos na Maçonaria brasileira, vendo carreiras meteóricas e ascensões fulminantes de homens medíocres, sem cultura geral e maçônica, sem vivência dentro da Instituição e sem trabalhos de vulto, em benefício dela, creio que posso dar, aos novos maçons, que queiram enquadrar-se nessa situação, a receita de como possuir altos graus e cargos elevados, sem o tempo necessário e legal e sem fazer força.

É claro que essa receita é, apenas, para as mediocridades, que não possuem capacidade suficiente para subir por seus próprios méritos. Eis as regras, bem simples:

01)- Faça muitos exercícios de contorcionismo, para que sua coluna vertebral torne-se bastante flexível, permitindo dessa maneira, grandes curvaturas aos que lhe são hierarquicamente superiores dentro da Ordem.

02)- Exercite, também, os seus joelhos, para que eles aguentem as genuflexões aos detentores do poder.

03)- Acostume sua cabeça a balançar, apenas, no sentido vertical e nunca no horizontal, para que possa concordar com tudo o que os seus superiores hierárquicos, na Loja, ou na Obediência, desejarem.

04)- Bater palmas aos que estão acima, sempre ajuda: exercite as mãos.

05)- Seja sempre o primeiro no cortejo da bajulação, no cordão dos puxa-sacos dos detentores dos poderes simbólicos e dos altos graus, desde que, é óbvio, eles gostem de bajulações.

06)- Nunca diga “não”. Seja como a boa prostituta e concorde com tudo, pois negócio é negócio.

07)- Seja sempre bonzinho com todos, fale mansa e suavemente, sem nunca alterar a voz: não dê palpites, não emita opiniões, não queira dar demonstrações de cultura e todos acharão que você é o máximo.

08)- Procure conseguir alguns titulozinhos “profanos” mesmo sabendo que a mediocridade não merece títulos, rastejando e implorando é possível consegui-los. O trabalho compensa, pois os títulos, mesmo imerecidos, impressionam os basbaques.

09)- Acima de tudo, e esta é a regra principal, esteja, sempre, com quem está por cima. Se, todavia, aquele que estiver por cima vier a cair, não hesite em ser volúvel: mude de amo, pois a sua vaidade terá que ser maior que a sua dignidade.

10)- Não seja independente, pois Maçom independente só sobe pelos seus próprios méritos e com esforço; além de tudo, independência é apanágio de quem tem dignidade, brio e não é medíocre, não precisando, portanto, de todas essas regras.

Seguindo essas dez simples regras, é possível, em pouco tempo, chegar aos mais altos graus (nesse caso, uma boa conta bancária também ajuda), em detrimento de Irmãos mais antigos e mais capazes, e subir aos altos cargos simbólicos, com exceção do Grão-Mestrado, pois os títeres só servem para sustentar os Grão-Mestres e nunca para tomar-lhes o lugar.

Quem fizer tudo isso, será, logo, um figurão dentro da Instituição e mesmo que não possua suficiente cultura, será um bom enganador, pois todos acharão que a possui.

A existência desses figurões fabricados, todavia, é motivo de grande desgaste, para a Maçonaria, pois ela repete, no caso, um dos grandes erros da sociedade “profana”, que é a inversão de valores; além disso, ocupando altos cargos na Ordem e sendo reconhecidos como medíocres lá fora, eles depõem contra a própria Instituição. Há alguns anos, um amigo e Irmão “adormecido”, portador de vasta cultura e reconhecidamente capaz, perguntou-me, a respeito de um conhecido comum nosso: - “Qual é o cargo que Fulano ocupa no Grande Oriente?” Quando eu lhe respondi, ele, atônito, exclamou: - “Puxa! Esse indivíduo, multiplicado por dois, não forma meio burro! Como vai mal a nossa Maçonaria!” - Era bobagem eu tentar explicar como o “indivíduo” conquistou o cargo. Ficaram, apenas, a vergonha e o desencanto, próprios de quem é Maçom de brio e não gosta de ver deturpada a imagem da Maçonaria Nacional.

Em 1974, como responsável pelo Boletim da Loja “Lealdade à Ordem”, da qual fui idealizador e fundador, fiz uma crítica, abordando a mediocridade da assessoria do Grande Oriente de São Paulo ligado ao GOB, já que é notório que os cargos de confiança nem sempre levam em conta a capacidade, mas servem, mais, para premiar “os amigos do rei”. A crítica tinha endereço certo: era dirigida a dois “Grandes” Secretários; todavia, todos enterraram a carapuça até os joelhos. O Grão-Mestre estadual da época disse-me, então, que eu havia ofendido a toda a cúpula. Ora, se toda a tal cúpula sentiu-se “ofendida” é porque eu, realmente, me enganara: a mediocridade era total e não de apenas dois Secretários, pois quem não era, realmente medíocre, não poderia sentir-se atingido. Certamente todos seguiam o conselho da sabedoria antiga “Nosce te ipsum” (tradução latina da inscrição grega encontrada no frontispício do templo de Apolo, em Delfos), que significa: “Conhece-te a ti mesmo”.

Com o conhecimento desse fato, muitos poderão perguntar-me se a atual crítica também tem endereço certo. E eu responderei, imitando um antigo político brasileiro: “Nem sim, nem não, muito pelo contrário; deixemos, aos pavões, o benefício da dúvida”. Os homens brilhantes, que estão nos altos escalões da Maçonaria Nacional e que representam a maioria, não se sentirão atingidos. O resto? Bem, o resto… é o “resto”!

Cabe, aqui, entretanto, uma advertência final: não confundir subserviência com fidelidade, pois qualquer Maçom pode ser fiel a um dirigente maçônico,  sem ser servil , sem se desfazer da vontade própria, sem prostituir a sua consciência e sem ter a docilidade de um fantoche. A fidelidade consiste em dar apoio, mas não aplaudir e avalizar os erros, pois o verdadeiro amigo, o amigo fiel, chama a atenção para os erros e suas consequências, impedindo que eles sejam cometidos. Um Grão-Mestre democrático ouve os que o cercam e toma as suas resoluções de acordo com a maioria, formando uma liderança coletiva, base e sustentação da moderna democracia. Uma assessoria que, por mera adulação, se comporta como um rebanho de carneiros, é altamente deletéria, é a negação da liberdade de consciência, é o primeiro passo para uma nefasta ditadura, incompatível com o espírito maçônico de LIBERDADE.



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