ANTÓNIO ROCHA FADISTA - M.'.I.'. Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB - Brasil
Platão, chamado a ensinar a arte de conhecer os
homens, assim se expressou: “os homens e os vasos de terracota se conhecem do
mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens se
distinguem facilmente pelo seu modo de falar”. O pensamento do filósofo
Iniciado nos oferece excelente oportunidade para uma profunda reflexão,
principalmente para os que integram a Ordem Maçônica.
Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos
prisioneiros das palavras proferimos. Por serem a expressão do nosso
pensamento, por traduzirem as idéias e os sentimentos, as palavras se tornam um
centro emissor de vibrações, tanto positivas quanto negativas. A palavra é o
elemento que identifica o Homem e é a síntese de todas as forças vitais; é o
elemento que interliga todos os planos, do mais denso ao mais sutil. A palavra
está intimamente ligada ao silêncio, outra sublime expressão da psique humana.
No mundo profano a palavra - falada ou escrita - é
usada indiscriminadamente. A sociedade humana está cheia de palavras que
ofendem, que humilham, que magoam e que denigrem a honra do próximo. Se se
trabalhasse mais e se falasse menos, com certeza que a humanidade seria mais
evoluída e mais civilizada. Infelizmente existem palavras em excesso, não só no
mundo profano como também nos Templos Maçônicos. Tal situação é inconcebível em
um Maçom, pois no estudo dos símbolos ele aprende a refletir sobre o conteúdo
oculto das palavras que, em última análise, refletem a essência interior do ser
humano. Não por acaso a doutrina Maçônica reserva o silêncio aos seus membros,
de acordo, aliás, com a Tradição Pitagórica. A Escola Iniciática de Pitágoras
tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o de
Perfeição.
Os neófitos do grau de Preparação, equivalente ao
grau maçônico de Aprendiz, eram proibidos de falar; eram só ouvintes e cumpriam
um período de observação de três anos, durante o qual a regra era calar e
pensar no que ouviam.
No grau de Purificação, equivalente ao de
Companheiro Maçom, o silêncio se estendia por mais dois anos, adquirindo estes
Irmãos o direito de ouvir as palestras do Mestre Pitágoras.
Assim, para atingir o grau de Perfeição,
equivalente ao de Mestre Maçom, quando então os Irmãos podiam fazer uso da
palavra, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.
Nas reuniões maçônicas, sem dúvida, constitui uma
prova de sabedoria saber ouvir e manter o silêncio. Chílon, um dos sete sábios
da Grécia Antiga, quando perguntado sobre qual a virtude mais difícil de
praticar, respondia: “calar”.
No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da
antiga Pérsia, encontramos normas e regras sobre o uso e o controle da palavra,
cuja universalidade desafia os séculos. No mundo maçônico, a dimensão da
palavra falada e escrita não é diferente. Ao entrar em nossa Sublime
Instituição encontramos, na ritualística, referências à sacralidade da palavra
que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre
dosada, moderada, e deve espelhar o equilíbrio interno do orador.
Em nossa Ordem, a palavra deve ser usada no mesmo
sentido em que Dante Alighieri exortava o seu personagem Metelo, na Divina
Comédia: “usa a tua palavra como um ornamento”.
À primeira vista, o silêncio poderia parecer um
condicionamento e um castigo.
Na realidade, o silêncio, a meditação e o
raciocínio, são a única via que leva à libertação das paixões e dos maus
pensamentos.
Além de exercitar a autodisciplina, em seu
silêncio o Maçom apreende com muito maior intensidade tudo o que ouve e tudo o
que vê. Assim, a voz do Irmão que se mantém em silêncio é a sua voz interior,
quando ele dialoga consigo mesmo e, neste diálogo, analisa, critica, tira suas
próprias conclusões e aprimora o seu caráter. Em suma, pelo silêncio, a
Maçonaria estimula os Irmãos a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e
nobre Arte Real. Deste modo, o silêncio em Maçonaria não é meramente simbólico
e não é também um meio de castrar a iniciativa dos Irmãos. O silêncio é
indispensável e decisivo no processo de lapidação da Pedra Bruta e no
aperfeiçoamento interno dos Irmãos. Ao cruzar as portas de uma Loja Maçônica,
trazendo consigo a liberdade total de expressão, um direito natural que lhe é
garantido pela Declaração dos Direitos Humanos, sem as restrições que lhe
impõem a moral e a razão, o novo Maçom aprende a controlar os seus impulsos,
pela prática espartana do silêncio.
Assim ele aprimora o seu caráter e prepara-se para
ser um líder, numa sociedade na qual prevaleçam a Liberdade responsável, a
Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária.
Se tiver de falar, que o maçom siga o conselho de
Dante e use a sua palavra como um ornamento. Tudo se resume na prática da Lei
do Amor e da Tolerância.
Certamente que o Grande Arquiteto do Universo
ilumina e abençoa a todos os que pensam mais do que falam, pois estes
espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais diletos.
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