sábado, 30 de novembro de 2013

A BALAUSTRADA

Irm.'. Kennyo Ismail

Muitos irmãos já divagaram sobre a origem e o simbolismo da balaustrada, também chamada em alguns rituais de “grade da razão”. A imaginação chega a tanto que há quem defenda que a balaustrada é uma espécie de portal pelo qual o maçom, ao atravessar, sai do mundo do si mesmo e conquista o terreno dos sonhos, do inconsciente, da espiritualidade, dos mistérios e da magia. Deve ser por isso que de vez em quando nos deparamos com irmãos dormindo no Oriente! Mas voltemos à vida real.

A balaustrada é formada por uma sequência de balaústres que suspendem um corrimão. Suas primeiras aparições foram encontradas no que se sabe sobre os templos assírios. Balaustradas não estão presentes nas construções gregas e romanas, mas reapareceram a partir do Século XV, inicialmente em palácios de Veneza e Verona, provavelmente influência da cultura árabe, por conta da dominação muçulmana na península ibérica. Seu uso mais amplo na Europa teve início no século seguinte, sendo adotado por artistas como Michelangelo. No século XVI, balaustradas foram largamente utilizadas na construção de basílicas e catedrais e, a partir daí, ganhou espaço na ornamentação de igrejas, servindo como delimitador entre a nave (ocidente) e o presbitério (oriente), num nível mais elevado. É junto da balaustrada que os fiéis recebem a comunhão.

Para compreendermos a razão da presença da balaustrada nos templos maçônicos dos ritos de origem francesa e seus derivados (Escocês, Adonhiramita, Moderno, Brasileiro), precisamos, inicialmente, realizar algumas considerações pertinentes sobre “templos” maçônicos.

Como é do conhecimento de todo maçom, a Maçonaria não surgiu em templos. As primeiras Lojas que se tem notícia não se reuniam em locais sagrados, mas sim em aposentos nos fundos ou em cima de tavernas, botecos, hotéis, canteiros de obras, etc. Enfim, locais não muito “sagrados”, bem distintos dos “templos” maçônicos que se tem hoje por aí, nos quais alguns maçons conservadores não deixam nem mesmo um(a) profano(a) realizar a limpeza, por risco de profanar o solo maçônico sagrado, colocando os Aprendizes para exercerem a tarefa da limpeza.

Foi por volta da década de 60 do Século XVIII que surgiram os primeiros imóveis construídos com objetivo exclusivo de funcionamento de Lojas Maçônicas, ainda na Inglaterra. A iniciativa de tal movimento é creditada aos líderes maçons William Preston, James Heseltine e Thomas Dunckerley. Mas esses imóveis não foram chamados de Templos, nem passaram por cerimônias de sagração. Aliás, até hoje não são chamados de Templos e não são sagrados, porque mantém o significado original dos locais de reuniões dos maçons. São conhecidos por Lodge Room (Sala da Loja). Em outras palavras, são apenas aposentos de reuniões maçônicas, assim como eram quando em tavernas, por exemplo. A diferença é que, com as construções próprias, o local fica mais bem guardado dos não maçons e não precisa ser preparado e desmanchado a cada reunião.

Na mesma década, movimento similar teve início na Maçonaria francesa. Aparentemente, o primeiro local construído para uso exclusivamente maçônico na França foi em Marselha, a cidade mais antiga daquele país, em 1765. A diferença entre o movimento de construções maçônicas na Inglaterra e EUA para a França no Século XVIII foi a de que a França é um país predominantemente católico e a influência religiosa teve papel fundamental na concepção e ornamentação das construções.

A influência católica na Maçonaria francesa pode ser observada, por exemplo, no uso da nomenclatura “templo” e seu processo de inauguração. Baseado na Igreja, o local de reuniões maçônicas passou a ser considerado um templo, necessitando, portanto, de passar por uma sagração, costume esse comum à Igreja Católica Apostólica Romana, mas inexistente em muitas outras igrejas. Reforçando, não se trata de uma prática originalmente maçônica, mas sim religiosa.

Tal influência também é explícita na arquitetura da Loja. Tradicionalmente, as portas que dão acesso à Sala da Loja (templo) devem ser angulares, pois uma entrada reta (no eixo da Loja, de frente ao Oriente) “não é maçônica e não pode ser tolerada”. Assim é nas Lojas inglesas e norte-americanas, por exemplo. Porém, a Maçonaria francesa adotou uma porta central, assim como nas igrejas. Outra característica é quanto ao piso da Loja, originalmente com o Oriente e o Ocidente no mesmo nível, tendo apenas as estações do Venerável, 1º e 2º Vigilantes contendo degraus. Entretanto, a Maçonaria francesa, também copiando a arquitetura de igrejas, adotou oriente mais elevado, com balaustradas delimitando.

Outras influências católicas menos perceptíveis são evidenciadas no uso de incenso, ao denominar o posto do Venerável Mestre de “altar”, na presença do “mar de bronze” para purificação, entre outras. E a partir da presença física de tais influências em Loja, iniciou-se o “brainstorming” permanente dos ritualistas, um exercício eterno de imaginação para conferir interpretações aos mesmos.


sábado, 23 de novembro de 2013

A TRI-PONTUAÇÃO MAÇÔNICA

O triponto, muito utilizado pelos Maçons em suas assinaturas, além de servir para identificar um Irmão, possui um profundo simbolismo oculto, alquímico e espiritual.


Representa também os três graus simbólicos da Maçonaria (Aprendiz, Companheiro e Mestre), as Três Luzes (o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso) e as Três Colunas. Essas Colunas, estilizadas graficamente pelos pontos, são atribuídas a determinados cargos na Loja maçônica: Coluna Jônica (Venerável Mestre), Coluna Dórica (Primeiro Vigilante) e Coluna Coríntia (Segundo Vigilante). Como Ordens de Arquitetura legadas pelos antigos gregos, simbolizam ainda a Sabedoria, a Força e a Beleza, respectivamente.

Na Cabala Hermética e Tifoniana, esses três pontos representam o triângulo superior da Árvore da Vida e da Morte, formado pelas três Sephiroth/Qliphoth, ou esferas (pontos), chamadas Kether/Thaumiel, Chokmah/Ghogiel e Binah/Satariel. Sinteticamente, pode-se dizer que Kether (Coroa) é a força neutra potencial, e seu lado sombrio, Thaumiel, expressa as “Forças Combatentes” que causam confusão, conflito e desagregação psicomental; Chokmah (Sabedoria) é a força positiva, ativa, em ação e seu aspecto sinistro, Ghogiel, é o “Estorvador” que impede a aquisição da sabedoria àqueles que permanecem estagnados em suas limitações e confusões psicomentais; Binah (Compreensão) é a força negativa, passiva, gestadora, da Criação e seu lado obscuro, Satariel, é o “Ocultador” que oculta e obscurece a consciência e vela o acesso à compreensão para aqueles que não possuem as chaves, ou seja, que não evoluíram o suficiente.

O triângulo é a forma geométrica primitiva cujo simbolismo sintetiza o mundo superior, o plano da Criação, pois envolve três forças primárias que são a origem de Tudo em seu ciclo infinito de criação, preservação e destruição no tempo contínuo (passado, presente e futuro). Isso pode ser ilustrado por diversos símbolos, de diversas culturas e religiões ao redor do mundo.

Como outros exemplos, podemos citar: a Trimurti hindu, composta pelos deuses Brahma (Criação), Vishnu (Preservação) e Shiva (Destruição); o Tridente de Shiva; o Tridente de Netuno; o Caduceu de Mercúrio com duas serpentes e um bastão; as três Nornas, deusas escandinavas do Destino (Moiras gregas; Parcas romanas), etc.

Na música, os três pontos representam a tríade ou tricorde, as três notas do acorde considerado perfeito. Esse acorde primordial e básico, de três notas, é formado por intervalos de terças (tríades), por exemplo: tônica (nota dó, primeira), mais a terça (nota mi, terceira da nota dó), mais a quinta (nota sol, terceira da nota mi).

Esotericamente, o acorde perfeito, formado pela tríade, simboliza a Criação incipiente, prestes a desdobrar-se infinitamente no Universo, como os muitos acordes e escalas musicais existentes para expressar os muitos aspectos do espírito humano.

Os três pontos e o triângulo simbolizam também o Enxofre, o Mercúrio e o Sal, os três principais elementos alquímicos. O Enxofre é o fogo luminoso, o verdadeiro ser espiritual autoconsciente, o Eu Superior individual, o Fogo de Prometeus, o Fogo do Dragão e a Tocha de Baphomet (o “batismo de sabedoria”, união dos aspectos mercurianos e tifonianos), sendo esse Enxofre/Fogo a chispa imortal que vivifica cada ser. O Mercúrio é a alma ou veículo astromental, que expressa emoções e pensamentos, que manifesta a inteligência e a imaginação no indivíduo encarnado; é o mediador entre o espírito e o corpo físico.

O Sal simboliza o próprio corpo material denso com suas sensações e sentidos físicos, animado pelo Enxofre (o fogo vivificante, o espírito); é o receptáculo das influências espirituais (Enxofre) e das inquietudes da alma (Mercúrio).

No corpo humano, representado pelo Caduceu de Mercúrio, temos o ternário bioenergético, os etéricos condutos nervosos da coluna espinhal, chamados de Idá, Pingalá e Sushumná. Idá é a “serpente”, negativa; Pingalá, a “serpente”, positiva; e Sushumná é o bastão neutro com o globo Aour (Luz).

Assim, temos nos três pontos a representação de três forças primárias e fundamentais, a positiva, a negativa e a neutra, que são essenciais para gerar ou criar qualquer coisa no Universo manifestado. Aliás, esse princípio podemos ver na própria Física e na estrutura básica do átomo composto por prótons, elétrons e nêutrons.

Ainda no corpo humano, temos as três funções respiratórias (inspiração, retenção e expiração), e na genética e na fisiologia temos as forças manifestadas no pai, na mãe e no filho(a).
Como analogia, o triângulo, formado pelos três pontos, é também o símbolo alquímico do Fogo e do Enxofre (o triângulo sobre uma cruz equilátera).

A própria manifestação física do fogo essencialmente requer a combinação de três elementos: combustível (material de combustão), comburente (oxigênio) e calor (princípio de ignição), formando assim o triângulo do fogo, ou, maçonicamente, o delta luminoso do espírito…

sábado, 9 de novembro de 2013

CONSEQUÊNCIAS

Imagine-se em frente a um lago. As águas calmas, paradas. Uma pequena aranha tece sua teia nos juncos. Aves aquáticas deslizam tranquilamente. Sapos descansam sob as plantas. Peixes circulam atentos em busca de insetos próximos às margens. 

Imagine que você atira uma pedra no meio do lago. O barulho, o deslocamento da água, a lama que levanta no fundo, as ondas concêntricas na superfície. Os peixes se afastam ligeiros, instintivamente do perigo iminente. As aves se agitam. Os sapos ficam atentos. Os pássaros nas árvores ao redor silenciam por segundos, avaliando os possíveis riscos da súbita agitação. E até a pequena aranha pára em sua teia quando as ondas balançam os juncos, atenta à nova vibração.

Sua atitude mexeu com todo o ambiente e com os personagens que dele fazem parte. Imagine o impacto de jogar mais pedra, pedras maiores, mais vezes, muitas de uma vez, sem parar. As águas se tornam turbulentas e lodosas. A quietude termina. As aves voam. Os peixes se afastam, assustados, para o outro lado da lagoa. Os sapos buscam esconderijos mais seguros. Os respingos da água agitada molham a teia, destroem a teia ou derrubam a aranha. Você criou outro ambiente.

Pode lhe parecer igual, mas não é. Suas atitudes e escolhas mexem com seu mundo, com sua vida e com as pessoas ao seu redor. Você pode achar que não, pode não enxergar, não perceber, pode achar que o impacto é pequeno demais, seja ele bom ou mau. Mas há um impacto. E se expande em sua vida, como as ondas no lago. 

Usar drogas transforma seu mundo… Como seria um mundo sem drogas? Pare e pense por um instante. Consegue imaginar? São muitos detalhes. É utópico acreditar que tudo seria tranqüilo e perfeito. É claro que os problemas humanos não se resumem à drogas. Mas também é claro, ou deveria ser, que as drogas pioram e criam ainda mais problemas. Cegam. Adoecem. Atrasam. Em todos os níveis. 

O usuário solitário, em seu quarto, pode acreditar que está apenas relaxando e aliviando as tensões da vida; “afinal, é só maconha. É só de vez em quando. Compra com seu próprio dinheiro. Não faz mal a ninguém”. Pense melhor: as tensões existem para gerar energia, que deve ser canalizada para busca de soluções. Se anestesiar não soluciona problemas. Você está se enganando. 

As drogas, incluindo a maconha, geram transformações, em seu corpo e seu cérebro. Você está adoecendo. Sua capacidade de pensar e tomar decisões está alterada, deixando você descuidado ou violento. Você está se arriscando. É muito provável que sua família não saiba o que você está fazendo. Você está enganando as pessoas. Você poderia estar sendo uma pessoa melhor.

O problema vai crescer e transbordar os limites do seu quarto. “Não se pode enganar todos o tempo todo”. Sua família acaba descobrindo. E fica com medo, confusa, culpada, irritada, triste, desgastada, ressentida, desconfiada. E isso atinge você. Você poderia ter uma família melhor. 

O usuário de drogas falta mais ao trabalho, comete mais erros e tem mais dificuldade em manter um emprego, prejudicando colegas e empregadores. Usa mais os serviços de saúde e os leitos de hospitais, seja pelas conseqüências diretas do uso ou por se envolver em acidentes, brigas e contrair doenças por comportamento inconsequente. Além disso, pode envolver outras pessoas em acidentes, brigas ou transmitir doenças, mesmo sem intenção. Você envolve a sociedade nas conseqüências de seu vicio. 

Você poderia ter uma cidade melhor. Seria muita inocência acreditar que o dinheiro que você perde em drogas vai contribuir para o bem geral. Você está investindo em crimes de todos os tipos, corrupção, armas, conflitos, jogos de poder e violência. E não se engane: você não está no lado mais forte. Mas poderia estar usando sua força. Você poderia ter um mundo melhor. 

O problema não é só seu. É de todos. Todo o bosque sofre as repercussões do lago barulhento e cheio de lodo. Mas a responsabilidade é sua. Só você pode parar de jogar pedras. Como seria o SEU mundo sem drogas?