Irm.'. Kennyo Ismail
Muitos irmãos já divagaram sobre a origem e o
simbolismo da balaustrada, também chamada em alguns rituais de “grade da
razão”. A imaginação chega a tanto que há quem defenda que a balaustrada é uma
espécie de portal pelo qual o maçom, ao atravessar, sai do mundo do si mesmo e
conquista o terreno dos sonhos, do inconsciente, da espiritualidade, dos
mistérios e da magia. Deve ser por isso que de vez em quando nos deparamos com
irmãos dormindo no Oriente! Mas voltemos à vida real.
A balaustrada é formada por uma sequência de
balaústres que suspendem um corrimão. Suas primeiras aparições foram
encontradas no que se sabe sobre os templos assírios. Balaustradas não estão
presentes nas construções gregas e romanas, mas reapareceram a partir do Século
XV, inicialmente em palácios de Veneza e Verona, provavelmente influência da
cultura árabe, por conta da dominação muçulmana na península ibérica. Seu uso
mais amplo na Europa teve início no século seguinte, sendo adotado por artistas
como Michelangelo. No século XVI, balaustradas foram largamente utilizadas na
construção de basílicas e catedrais e, a partir daí, ganhou espaço na ornamentação
de igrejas, servindo como delimitador entre a nave (ocidente) e o presbitério
(oriente), num nível mais elevado. É junto da balaustrada que os fiéis recebem
a comunhão.
Para compreendermos a razão da presença da
balaustrada nos templos maçônicos dos ritos de origem francesa e seus derivados
(Escocês, Adonhiramita, Moderno, Brasileiro), precisamos, inicialmente,
realizar algumas considerações pertinentes sobre “templos” maçônicos.
Como é do conhecimento de todo maçom, a Maçonaria
não surgiu em templos. As primeiras Lojas que se tem notícia não se reuniam em
locais sagrados, mas sim em aposentos nos fundos ou em cima de tavernas,
botecos, hotéis, canteiros de obras, etc. Enfim, locais não muito “sagrados”,
bem distintos dos “templos” maçônicos que se tem hoje por aí, nos quais alguns
maçons conservadores não deixam nem mesmo um(a) profano(a) realizar a limpeza,
por risco de profanar o solo maçônico sagrado, colocando os Aprendizes para
exercerem a tarefa da limpeza.
Foi por volta da década de 60 do Século XVIII que
surgiram os primeiros imóveis construídos com objetivo exclusivo de
funcionamento de Lojas Maçônicas, ainda na Inglaterra. A iniciativa de tal
movimento é creditada aos líderes maçons William Preston, James Heseltine e
Thomas Dunckerley. Mas esses imóveis não foram chamados de Templos, nem
passaram por cerimônias de sagração. Aliás, até hoje não são chamados de
Templos e não são sagrados, porque mantém o significado original dos locais de
reuniões dos maçons. São conhecidos por Lodge Room (Sala da Loja). Em
outras palavras, são apenas aposentos de reuniões maçônicas, assim como eram
quando em tavernas, por exemplo. A diferença é que, com as construções
próprias, o local fica mais bem guardado dos não maçons e não precisa ser
preparado e desmanchado a cada reunião.
Na mesma década, movimento similar teve início na
Maçonaria francesa. Aparentemente, o primeiro local construído para uso
exclusivamente maçônico na França foi em Marselha, a cidade mais antiga daquele
país, em 1765. A diferença entre o movimento de construções maçônicas na
Inglaterra e EUA para a França no Século XVIII foi a de que a França é um país
predominantemente católico e a influência religiosa teve papel fundamental na
concepção e ornamentação das construções.
A influência católica na Maçonaria francesa pode ser
observada, por exemplo, no uso da nomenclatura “templo” e seu processo de
inauguração. Baseado na Igreja, o local de reuniões maçônicas passou a ser
considerado um templo, necessitando, portanto, de passar por uma sagração,
costume esse comum à Igreja Católica Apostólica Romana, mas inexistente em
muitas outras igrejas. Reforçando, não se trata de uma prática originalmente
maçônica, mas sim religiosa.
Tal influência também é explícita na arquitetura da
Loja. Tradicionalmente, as portas que dão acesso à Sala da Loja (templo) devem
ser angulares, pois uma entrada reta (no eixo da Loja, de frente ao Oriente)
“não é maçônica e não pode ser tolerada”. Assim é nas Lojas inglesas e norte-americanas, por
exemplo. Porém, a Maçonaria francesa adotou uma porta central, assim como nas
igrejas. Outra característica é quanto ao piso da Loja, originalmente com o
Oriente e o Ocidente no mesmo nível, tendo apenas as estações do Venerável, 1º
e 2º Vigilantes contendo degraus. Entretanto, a Maçonaria francesa, também
copiando a arquitetura de igrejas, adotou oriente mais elevado, com
balaustradas delimitando.
Outras influências católicas menos perceptíveis são
evidenciadas no uso de incenso, ao denominar o posto do Venerável Mestre de
“altar”, na presença do “mar de bronze” para purificação, entre outras. E a
partir da presença física de tais influências em Loja, iniciou-se o
“brainstorming” permanente dos ritualistas, um exercício eterno de imaginação
para conferir interpretações aos mesmos.
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