Ir.·. José Castellani
Consultório Maçônico II
Depois de muitos anos na Maçonaria brasileira, vendo
carreiras meteóricas e ascensões fulminantes de homens medíocres, sem cultura
geral e maçônica, sem vivência dentro da Instituição e sem trabalhos de vulto,
em benefício dela, creio que posso dar, aos novos maçons, que queiram
enquadrar-se nessa situação, a receita de como possuir altos graus e cargos
elevados, sem o tempo necessário e legal e sem fazer força.
É claro que essa
receita é, apenas, para as mediocridades, que não possuem capacidade suficiente
para subir por seus próprios méritos. Eis as regras, bem simples:
01)- Faça muitos exercícios de contorcionismo, para que sua
coluna vertebral torne-se bastante flexível, permitindo dessa maneira, grandes
curvaturas aos que lhe são hierarquicamente superiores dentro da Ordem.
02)- Exercite, também, os seus joelhos, para que eles aguentem
as genuflexões aos detentores do poder.
03)- Acostume sua cabeça a balançar, apenas, no sentido
vertical e nunca no horizontal, para que possa concordar com tudo o que os seus
superiores hierárquicos, na Loja, ou na Obediência, desejarem.
04)- Bater palmas aos que estão acima, sempre ajuda: exercite
as mãos.
05)- Seja sempre o primeiro no cortejo da bajulação, no
cordão dos puxa-sacos dos detentores dos poderes simbólicos e dos altos graus,
desde que, é óbvio, eles gostem de bajulações.
06)- Nunca diga “não”. Seja como a boa prostituta e concorde
com tudo, pois negócio é negócio.
07)- Seja sempre bonzinho com todos, fale mansa e suavemente,
sem nunca alterar a voz: não dê palpites, não emita opiniões, não queira dar
demonstrações de cultura e todos acharão que você é o máximo.
08)- Procure conseguir alguns titulozinhos “profanos” mesmo
sabendo que a mediocridade não merece títulos, rastejando e implorando é
possível consegui-los. O trabalho compensa, pois os títulos, mesmo imerecidos,
impressionam os basbaques.
09)- Acima de tudo, e esta é a regra principal, esteja,
sempre, com quem está por cima. Se, todavia, aquele que estiver por cima vier a
cair, não hesite em ser volúvel: mude de amo, pois a sua vaidade terá que ser
maior que a sua dignidade.
10)- Não seja independente, pois Maçom independente só sobe
pelos seus próprios méritos e com esforço; além de tudo, independência é
apanágio de quem tem dignidade, brio e não é medíocre, não precisando,
portanto, de todas essas regras.
Seguindo essas dez simples regras, é possível, em pouco
tempo, chegar aos mais altos graus (nesse caso, uma boa conta bancária também
ajuda), em detrimento de Irmãos mais antigos e mais capazes, e subir aos altos
cargos simbólicos, com exceção do Grão-Mestrado, pois os títeres só servem para
sustentar os Grão-Mestres e nunca para tomar-lhes o lugar.
Quem fizer tudo isso, será, logo, um figurão dentro da
Instituição e mesmo que não possua suficiente cultura, será um bom enganador,
pois todos acharão que a possui.
A existência desses figurões fabricados, todavia, é motivo de
grande desgaste, para a Maçonaria, pois ela repete, no caso, um dos grandes
erros da sociedade “profana”, que é a inversão de valores; além disso, ocupando
altos cargos na Ordem e sendo reconhecidos como medíocres lá fora, eles depõem
contra a própria Instituição. Há alguns anos, um amigo e Irmão “adormecido”,
portador de vasta cultura e reconhecidamente capaz, perguntou-me, a respeito de
um conhecido comum nosso: - “Qual é o cargo que Fulano ocupa no Grande
Oriente?” Quando eu lhe respondi, ele, atônito, exclamou: - “Puxa! Esse
indivíduo, multiplicado por dois, não forma meio burro! Como vai mal a nossa
Maçonaria!” - Era bobagem eu tentar explicar como o “indivíduo” conquistou o
cargo. Ficaram, apenas, a vergonha e o desencanto, próprios de quem é Maçom de
brio e não gosta de ver deturpada a imagem da Maçonaria Nacional.
Em 1974, como responsável pelo Boletim da Loja “Lealdade à
Ordem”, da qual fui idealizador e fundador, fiz uma crítica, abordando a mediocridade
da assessoria do Grande Oriente de São Paulo ligado ao GOB, já que é notório
que os cargos de confiança nem sempre levam em conta a capacidade, mas servem,
mais, para premiar “os amigos do rei”. A crítica tinha endereço certo: era
dirigida a dois “Grandes” Secretários; todavia, todos enterraram a carapuça até
os joelhos. O Grão-Mestre estadual da época disse-me, então, que eu havia
ofendido a toda a cúpula. Ora, se toda a tal cúpula sentiu-se “ofendida” é
porque eu, realmente, me enganara: a mediocridade era total e não de apenas
dois Secretários, pois quem não era, realmente medíocre, não poderia sentir-se
atingido. Certamente todos seguiam o conselho da sabedoria antiga “Nosce te
ipsum” (tradução latina da inscrição grega encontrada no frontispício do templo
de Apolo, em Delfos), que significa: “Conhece-te a ti mesmo”.
Com o conhecimento desse fato, muitos poderão perguntar-me se
a atual crítica também tem endereço certo. E eu responderei, imitando um antigo
político brasileiro: “Nem sim, nem não, muito pelo contrário; deixemos, aos
pavões, o benefício da dúvida”. Os homens brilhantes, que estão nos altos
escalões da Maçonaria Nacional e que representam a maioria, não se sentirão
atingidos. O resto? Bem, o resto… é o “resto”!
Cabe, aqui, entretanto, uma advertência final: não confundir
subserviência com fidelidade, pois qualquer Maçom pode ser fiel a um dirigente
maçônico, sem ser servil , sem se desfazer da vontade própria, sem
prostituir a sua consciência e sem ter a docilidade de um fantoche. A fidelidade
consiste em dar apoio, mas não aplaudir e avalizar os erros, pois o verdadeiro
amigo, o amigo fiel, chama a atenção para os erros e suas consequências,
impedindo que eles sejam cometidos. Um Grão-Mestre democrático ouve os que o
cercam e toma as suas resoluções de acordo com a maioria, formando uma
liderança coletiva, base e sustentação da moderna democracia. Uma assessoria
que, por mera adulação, se comporta como um rebanho de carneiros, é altamente
deletéria, é a negação da liberdade de consciência, é o primeiro passo para uma
nefasta ditadura, incompatível com o espírito maçônico de LIBERDADE.